Alternativas para a resolução de conflitos e descobertas recentes feitas através de pesquisas, podem ajudá-lo a voltar a resolver litígios quando estiver em desacordo com os outros em relação às suas crenças e princípios mais profundos.
Considere os seguintes cenários de conflitos reais:
- Dois irmãos discutem se devem vender algumas das posses de seus falecidos pais.
- Um grupo ativista bloqueia o acesso a uma estrada para evitar que uma empresa explore áreas florestais que comprou recentemente.
- Parceiros de negócios discutem se devem ou não aceitar um cliente potencialmente lucrativo que venda um produto que um dos parceiros se opõe por motivos morais.
Os tipos mais acirrados de conflito nas organizações e em nossas vidas pessoais geralmente dizem respeito a nossos valores principais, como nossos padrões morais de comportamento, nossas crenças religiosas e políticas e o bem-estar de nossa família. Tais conflitos de valores podem escalar e tomar grandes proporções, e intervir rapidamente no caso desses conflitos é essencial. Os três cenários de resolução de conflitos a seguir podem ajudá-lo a lidar com essas situações.
1. Avaliar se o valor é realmente sagrado para o outro
O conflito de valores geralmente surge porque uma ou mais das partes envolvidas considera um valor como sagrado e inegociável. Em alguns casos, nossos valores não estão abertos a concessões. Em outras situações, entretanto, nossos valores acabam sendo “pseudo-sagrados” – isto é, estamos dispostos a negociá-los sob certas condições, conforme defende Max H. Bazerman, professor da Harvard Business School.
Por exemplo, em determinado estudo, negociadores com pouco poder (ou seja, aqueles com um fraco BATNA, ou Melhor Alternativa para um Acordo Negociado) não eram susceptíveis a comprometer uma questão aparentemente sagrada a negociadores com maior poder, segundo Ann E. Tenbrunsel, professora da Universidade de Notre Dame, e seus colegas descobriram em suas pesquisas. A falta de alternativas (BATNA) levou os negociadores de baixo poder a se tornarem mais flexíveis na questão “sagrada”.
Antes de se recusar a tratar sobre uma questão que você considera sagrada, tente imaginar um resultado que permita que você respeite o espírito de seus valores, mesmo que faça concessões sobre outros detalhes. Ou, se uma contraparte insistir que uma questão em particular é sagrada, faça uma proposta que honre seus valores ao mesmo tempo em que aproxime-a do acordo. Esse pensamento criativo pode levar a histórias de sucesso de resolução de conflitos.
Isso não significa colocar etiquetas de preço em suas crenças mais estimadas. Em vez disso, significa pensar criativamente sobre como atingir seus objetivos mais amplos. Tomemos o caso dos irmãos que discordam sobre a possibilidade de vender bens de seus falecidos pais. E se eles concordaram em doar uma parte dos lucros da venda para uma instituição de caridade que seus pais apoiaram? Ambos podem acreditar que essa solução honra os valores dos pais, mais do que manter seus pertences.
2. Oferecer concessão sobre um dos seus principais valores
Em um estudo de 2007, Jeremy Ginges e sua equipe da New School for Social Research, apresentaram várias propostas para resolver o conflito palestino-israelense para os cidadãos que residem na Cisjordânia e em Gaza: colonos judeus-israelenses, refugiados palestinos e partidários de estudantes palestinos do Hamas.
Todos os três grupos rejeitaram solenemente as propostas que exigiriam que seu grupo fizesse uma concessão sobre uma questão central (como por exemplo a retirada israelense das regiões ou a perda palestina do direito de retorno a Israel) em troca da paz. E quando cada um dos lados também recebeu ajuda econômica significativa, eles foram ainda mais repelidos pela ideia de trocar seus valores sagrados por dinheiro.
No entanto, quando perguntados se aceitariam o acordo de paz se ele fosse acompanhado por uma concessão significativa do lado oposto em um de seus valores sagrados, todos os três grupos se dispuseram a negociar.
Quando nossos valores mais sagrados estão em jogo, provavelmente ficaremos ofendidos com a sugestão de que nosso apoio pode ser “comprado”. Em contraste, os cenários eficazes de resolução de conflitos podem envolver ir além da reivindicação de valor na negociação, propondo um sacrifício significativo em um dos seus próprios valores fundamentais para demonstrar sua seriedade e inspirar reciprocidade.
3. Afirmar as qualidades positivas do outro lado
Em outro estudo de 2015, os pesquisadores Fieke Harinck, da Leiden University na Holanda, e Daniel Druckman, da George Mason University, compararam a eficácia de determinados cenários de resolução de conflitos. Eles dividiram seus participantes em pares, e tentaram negociar uma resolução para um conflito de recursos que envolvia ou não um valor central.
Foi solicitado a alguns participantes que listassem cinco qualidades positivas de suas contrapartes, de acordo com alguma impressão ou um comportamento que eles observaram. Outros foram convidados a se concentrar em traços que tinham em comum com o seu parceiro de negociação. E um terceiro grupo, recebeu um incentivo financeiro para chegar rapidamente a um acordo.
Para os conflitos de valores, pensar nas qualidades positivas de sua contraparte foi mais eficaz na maximização dos resultados conjuntos. Concentrar-se na identidade compartilhada foi marginalmente menos eficaz do que nenhuma intervenção, e concentrar-se nos custos de transação foi o método menos eficaz em conflitos de valores. Assim, em um conflito de valores, pode ser sábio pensar sobre as qualidades que você aprecia em sua contraparte, tais como humildade, confiabilidade, convicções profundas ou alguma outra virtude.
Que outras estratégias de resolução de conflitos você achou úteis para resolver conflitos de valores?
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Por Guilherme Tavares, traduzido e adaptado de
Author (Autor): Katie Shonk
Article title (Título do Artigo): “Conflict Resolution Scenarios: Negotiating Values”
Website title (Site): PON – Program on Negotiation at Harvard Law School
Publication date: February 18th, 2019